segunda-feira, 8 de setembro de 2008

FLORES DE ESPUMA

Pintura de Berthe Marisot


Um círculo de garças

nem brancas nem esguias

adormecem nos barcos ancorados

com olhos excessivos


Nesta ilha sem vista para o mar

navegam águas improváveis

faúlhas num incendio

de partículas sitiadas


Aqui paira o aroma da cânfora

em ressonâncias quase divinas

pousam lábios em cálices de cicuta


O mar não é sempre azul

e talvez por isso se agite

nos mapas imaginários

rasgue caminhos

para não se perderem os naufragos


Nesta ilha de bálsamos

onde os destinos se desmentem

afagamos ruinas soltamos hinos

por sobre a memória das pedras


damos voz aos silêncios

até que as garças

se tornem brancas e esguias

como flores de espuma

30 comentários:

  1. Esperemos então que o tempo não demore muito a chegar, esse em que as garças se tornarão brancas e esguias...

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  2. Poema duma frescura, bonito
    cada palavra, cada frase é duma grande riqueza
    se eu soubesse escrever assim....

    Bjos

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  3. Por que o mar nem sempre é azul é que urge dar voz aos silêncios...
    Digo eu, que não percebo nada de bálsamos e só sei que revivo com o marulhar das ondas!
    Posso só deixar um aceno de andorinha fora de tempo?
    (Agradecida!) - Aqui fica.
    :)

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  4. lindo, musical e branco.
    a conseguir ouvir-se a espuma do mar...

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  5. pra quem viveu muito e muito tempo nas ilhas - uma pequena e outra nem tanto -, tendo o mar, rio e igarapés por companhias constantes... e as pessoas: quantas já se foram...

    amei o teu poema.

    deixo um abraço fraterno.

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  6. Muito bom o Poema.

    Foi um prazer encontrar este blog numa tabelinha de visitas. Obrigada. :)

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  7. nessa ilha sem vista para o mar todas as palavras aportam embebidas de poesia.

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  8. "Nesta ilha sem vista para o mar"....
    Nessa ilha
    com mar de outras cores
    perfumes
    sonhos e memórias
    afectuosamente
    e
    por vezes
    desesperadamente
    criam e recriam
    deliciando
    quem
    silenciosamente
    os
    contempla
    "até que as garças
    se tornem brancas e esguias
    como flores de espuma"

    princesa

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  9. que o aroma de cânfora preserve as ressonãncias. até as garças levantarem vôo. livre...

    excelente, Poeta.

    abraços

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  10. Poeta,
    Perdi-me na espuma destas palavras com sabor a mar, "nesta ilha de bálsamos, onde os destinos se desmentem"...

    Sorrisos muitos :)))

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  11. É nessa ilha de mar improvável
    Que se traçam rotas de esperança
    Improvável, mar arável
    Onde nas ondas as garças descansam!

    Um abraço
    Ausenda

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  12. E que acordem as garças, mas agora brancas e esguias, e como flores de espuma poisem nos barcos ancorados...
    Um abraço

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  13. muito bonito!
    e assim se iniciará um novo ciclo... o ciclo das garças... brancas e sempre esguias.

    um abraço
    luísa

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  14. as graças assim o serão quando a cor da água se avivar

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  15. Uma ilha improvável. Um mar nem sempre azul. Um mapa imaginário. Um belo poema a dar voz aos silêncios.
    Um abraço e bom fim de semana.

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  16. Acariciar com mãos de ondas e unhas de espuma o bojo dos barcos...possuí-los para sempre

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  17. Senti a nostalgia desta ilha sem vista para o mar, onde apesar de tudo se criam flores de espuma. :)

    Bom fim-de-semana!

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  18. Que o mar se aviste e as garças sejam as que os sonhos criam. Belíssimo poema!

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  19. www.wdirum.blogspot.com



    enquanto não chega outubro.



    abraço.

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