domingo, 24 de agosto de 2008

NO PESTANEJAR DE UMA VÍRGULA

Olho-te como se fosse a primeira vez
Na verdade a água
corpo líquido de mulher
tem segredos escondidos no fundo das pedras
alimentos de fogo
talvez uma praia onde se fundem
areias e lábios
um piano de luzes
que determina o tempo das estações

Ainda bem que tens ilhas selvagens
sinais apócrificos que se desnudam
em gestos simples
no pestanejar de uma vírgula

Na verdade a água sabe rir e chorar
no espelho das próprias lágrimas
no rumor das maresias
e eu descobri uma vez mais
que tens póros por onde respiras
silêncios escarpas por onde escorrem salivas
que te ergues e desmoronas
abrigo e mensageira
te desprendes do chão
ou hibernas nos corais

Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez
deixar por um instante
a outra água
para os peixes se moverem

29 comentários:

  1. Curioso! Estou a ler Luandino e fixei-me numa utilização frequente do verbo pestanejar. Achei muito interessante. E agora, aqui, reencontro-o. E gostei.
    Para além da riqueza metafórica, gravei a contraditória simplicidade (e verdade boa de sentir e de dizer) de quatro versos:
    Que bom ainda hoje/partilhar contigo este despertar/
    aprender vida fora a descobrir-te/
    como se fosse a primeira vez.

    Um abraço

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  2. É tão difícil saber olhar e ver sempre, todas as vezes que se olha, como se se visse pela primeira vez.
    Mas é possível, assim li no teu poema...

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  3. Na verdade a água - o mar, a onda...
    ... e descobrir-te sempre como se fosse a primeira vez...
    Na verdade, às vezes fico em perfeito estado líquido...

    Obrigada!

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  4. dias

    em que

    das mãos

    olhos virgens

    líquidos

    águas


    ~

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  5. Olhar com o coração

    é do que fala o teu belíssimo poema

    do amor que só o coração sabe falar.

    E


    muito bem escrito metafóricamente

    embora eu disso não entenda muito, apenas o suficiente :)


    Um beijo

    grande

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  6. Indispensável aprender a redescobrir, para que o amor não se afogue nos traiçoeiros pegos da rotina: gostei!
    Penso que sabes do acontecido a Montecristo, não?
    Feliz semana para ti.

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  7. olhar como se fosse a primeira vez é dom de poeta.


    gostei muito da imagem da água como corpo líquido de mulher.



    um abraço.

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  8. Viva! vim agradecer a sua presença na minha festa e informar que tem lá a resposta por tão amável visita.
    Quanto a este poema...é por demais belo!
    Se assim fosse com todos, o Amor jamais se afastaria da rota certa!
    Deixo um abraço sentido
    Mariz

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  9. Voltei para falar das minhas gentes, da minha terra, das memórias vivas e reais que perduram na minha alma e no meu coração.

    Beijinhos

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  10. Autêntico hino à mulher
    Gostei muito do poema
    e da essência
    Essência que inalei
    muito a meu jeito
    Enquanto Mulher
    deliciei-me
    ao sentir-me
    "água"
    "praia..."
    "ilha..."
    "...piano de luzes"
    "abrigo"
    "mensageira" ...
    ...do possível
    após hibrenação
    entre "corais"!

    princesa

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  11. "Ainda bem que tens ilhas selvagens"
    Uma ilha tem tanto para descobrir e o poema dá-nos conta desse desejo.
    Um abraço.

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  12. Viver tudo ou, pelo menos, o importante, como se fosse a primeira vez... é preciso! :)

    Boa semana de fim de Agosto!

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  13. Que bonito poema.
    E eu estava para aqui a pensar como foste parar ao meu blogue, mas já vi aqui "caras" conhecidas...
    Vou-te linkar, que é mais fácil.
    Beijinhos, volta sempre.

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  14. A poesia é, tal como o ser humano, sempre uma permanente descoberta.

    Grata pela partilha deste belíssimo poema. Vou reler.

    Fraterno abraço
    Mel

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  15. Belíssima linguagem poética. Uma delícia para ler.

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  16. Água e mulher, um paralelo que por entre os dedos vai e vem.
    Belo!
    Bj.

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  17. Nada mais belo que um amor que se renova e é capaz de se traduzir assim em palavras.
    ~CC~

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  18. Olá!
    tão lindo! lindo!
    sou Mulher. Obrigada p'la sua sensibilidade.

    fiz um pequenino hiato, de dia e meio nestas férias, regressei à "base" e à net, sigo amanhã para Madrid e Saragoça, vou à EXPO (apenas 3 dias), depois Castelo branco, quando voltar em meados de Setembro, vou ler tudinho com calma, agora vim só dar um abraço

    e um sorriso :)

    ah! nem de propósito a Expo ... é Água!

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  19. que bom ainda hoje!
    ternura, amigo e alguns condimentos

    abraço
    luísa

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  20. como persistes na arte de relevar a ESCRITA


    retomo.te ,pontualmente ,no meu regresso
    [pós férias]


    com


    .
    um beijo

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  21. água para mergulhar. e descobrir a beleza dos seus reflexos.

    ... e outra(s água(s) para "os peixes se moverem"!

    o poema faz a subtílissima diferença.

    Excelente, Poeta maior.

    abraços

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  22. Fascinante. Belo bailado de palavras.
    Porque é sempre a primeira vez.
    Cada momento é único e irrepetível.

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