terça-feira, 24 de junho de 2008

DESERTOS CONHECIDOS



Lá em cima no mais alto

entardecer dos últimos ninhos

as pedras

num sopro de alvoradas

assumem o coração das aves

erupções de asas

e das suas entranhas correm

lavas vertilíssimas

pelos nossos lábios

uma certa navegação de símbolos

em carne viva

ao rubro pelas vertentes

e o ar que se respira a si mesmo

promete um silêncio profundo

em anfiteatro

onde só os pássaros sem amos

crescem em coro sibilino


Lá em cima no mais alto

entardecer dos últimos ninhos

o frenesim da paisagem

exalta-se em vertigens passageiras

precárias definições

como se os melhores caminhos

não estivessem vivos

nos desertos conhecidos

por debaixo das areias


quase à tona

gloriosos,nómadas,tatuados

silvestres


22 comentários:

  1. "Lá em cima no mais alto
    entardecer dos últimos ninhos" silencio a voz para não profanar a beleza do poema.
    Um abraço.

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  2. "Lá em cima no mais alto
    entardecer dos últimos ninhos"...

    existe sempre o mais alto que se busca num "frenesim da paisagem" e uma constante incredulidade no trilho "dos desertos conhecidos
    por debaixo das areias"

    **
    Sempre um prazer viajar neste mar de mão cheia.

    Li e reli... vou ler de novo!
    Grata
    Mel

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  3. Sempre me pergunto - e respondo - donde vem essa canção da terra que à terra volta, em pés descalços.
    Abç

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  4. Um prazer, como sempre. Deixa-me na boca o sabor dos movimentos cósmicos que determinam a vida, o fogo, a paixão e o entardecer.
    Um beijo

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  5. e o ar que se respira a si mesmo


    promete um silêncio profundo...

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  6. "Lá em cima no mais alto


    entardecer dos últimos ninhos


    o frenesim da paisagem


    exalta-se em vertigens passageiras


    precárias definições"



    mas aqui nada é precário.


    antes o discurso silvestre de quem sabe.
    ver.




    _________________beijo. grato.

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  7. Que lindo poema... pulsante, fez vibrar meu âmago ancestral, minhas raízes, minha cor.

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  8. E estão vivos os caminhos,à espera de um golpe de asa, de um voo picado.

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  9. Poderemos titular, estas palavras, como sendo "O Poder da Natureza"?
    Abraço

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  10. lá em cima, no mais alto livro, o poema que aqui escreveste. adorei também a ilustração :) um beijo*

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  11. há muito que não te lia
    tão

    BELO


    .
    um beijo ,ainda sem café

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  12. pássaros sem amos... em sopro de alvoradas!

    como um grito de vermelho e negro (in)esperado...

    belo, Poeta!

    abraços

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  13. Me recordo da minha cidadezinha como um lugar de infância chapinhada, um lugar onde o próprio tempo transpirava.
    O mar não nos tocava apenas como margem do nosso pequeno mundo.
    O mar vinha de baixo, fluía entre os poros da terra, como um suor imenso.
    E tanto éramos feitos de líquido que ainda hoje eu creio não ter terra-natal.
    A Beira é minha água-natal.

    Assim escreve o Mia Couto e eu assino por baixo, concordando.

    Bom fim de semana.
    Bons banhos de praia ou de rio.

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  14. Ao rumor das palavras laceradas e ferozes junta-se a simbologia inquietante da fotografia, para nos monstrar, com a clareza inerente ao poeta, que os melhores caminhos podem estar substerrêneos.
    Belíssimo

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  15. Belissimo...

    Parabéns.

    http://desabafos-solitarios.blogspot.com

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  16. Aqui de cima
    avisto todo o deserto
    Desorientada
    contemplo
    um ou outro oásis
    perdidos
    na imensidão
    Desorientada
    rebusco
    símbolos e convicções
    ...
    o último ninho
    que deixei
    para além do deserto...

    princesa

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  17. Estudei o acordo ortográfico.

    Boa semana é o que lhe desejo.

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  18. não só a imagem é linda... teus versos?! belíssimos!! Valeu, mesmo!!!

    um abraço fraterno.

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