terça-feira, 26 de abril de 2016

MAIO





Hoje um poeta morreu
no trabalho
a construir poemas

João Corinto servente
não sabia palavras
só tijolos e cimento

Um pé fora do andaime
o chão não era de cravos
e as aves
bateram asas

Hoje um poeta morreu
no trabalho

Projectou-se do oitavo verso
do seu poema

Eufrázio Filipe
(2008)
 

terça-feira, 19 de abril de 2016

INCÊNDIO DE CRISÁLIDAS





A prumo neste clamor de socalcos
passo a passo
temos todo o tempo
em pleno voo
sem mapas nem destinos
para nos perder e encontrar

Quando te penso Abril
não estou a carpir lágrimas
festejo os olhos dos pássaros
o latido dos mares

solto barcos
sopro faúlhas

vejo-te em flor
num incêndio de crisálidas
asas abertas
a refulgir madrugadas

Eufrázio Filipe
 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ABRIL OLHOS POSTOS EM MAIO




No 40º aniversário da Constituição da República entendi partilhar este livro de algumas memórias, editado em 2009 pela Câmara Municipal do Seixal.

Eufrázio Filipe

segunda-feira, 11 de abril de 2016

DO ESPLENDOR DAS COISAS POSSÍVEIS




                                 
                                         "Paisagens em alvoroço"

Vou tentar escrever duas palavras ininteligíveis para ver se me faço entender, aqui da minha escarpa.
A poesia não se comenta (?) a menos que sejam os poetas a dizer por gestos o que escreveram.
A poesia do meu amigo Manuel desafia, desbrava palavras, são gestos em carne viva.
O poeta na sua solidão partilhada de luminosidades, sombras e silêncios, adquire no seu refúgio a transfiguração da vida.
Artífice exímio, recusa escancarar os poemas à devassa de uma leitura linear.
Recordo que é através das palavras que se expressa (também) a poesia.
No universo específico onde se move o poeta, com ou sem roupagem metafórica, cabe ao leitor acolher a mensagem e decifrá-la.
Esta poesia não é para ser cantada mas deve ser lida em voz alta, na esperança de sermos livres, eternos, por um instante, nas "paisagens em alvoroço".
Este "do esplendor das coisas possíveis" segue um registo de forma e conteúdo que identifica o Poeta e o Homem.
Se me lessem um poema seu sem identificar o autor, eu diria sem pestanejar - é do Manuel Veiga.

Abraço fraterno.


 

terça-feira, 5 de abril de 2016

ANOITECEMOS





Enamorado de palavras
transumantes
artesão de metáforas
deixei aos desertos
o cântico das areias
pela casa inteira

Já tínhamos morrido
quase tudo
quando chegaste folha-ante-folha
e eu não sabia
se eras tu
ou um pássaro
a prender-me o olhar
na tua voz

Ainda pestanejei umas vírgulas
soltei pétalas de sal
gota a gota
num belo concerto
de mãos nos ouvidos

anoitecemos

Eufrázio Filipe