domingo, 26 de outubro de 2014

DESPERTAMOS DE OLHOS FECHADOS







Todos os dias conforme as estações
acordava à hora dos pássaros

escancarava a janela
abria os braços
dava um grito para chamar os cães

descia pedra a pedra
todos os degraus
até ao chão das marés
para hastear uma bandeira 

enchia um jarro de água
sentava-me na mesa do alpendre
e começava a desenhar
palavras improváveis

Ao fundo
muito para lá da romãzeira
fremiam as águas
não sei porquê
mas fremiam

os cães latiam
e as palavras por uma nesga
espreitavam entre os dedos
como se fosse o fim da história
num paraíso inventado

Todos os dias despertamos
de olhos fechados



33 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Poeta,
Consigo visualizar tudo isso
e, juro, até o terei já ouvido

É uma realidade tão palpável...

deep disse...

Muito bonito. :)

Lídia Borges disse...


"Como se fosse o fim da história
num paraíso inventado

Todos os dias"

É verdade com uma nuance apenas - Há paraísos que não se deixam inventar.

Bj.

teresa dias disse...

Fabuloso!
Abraço.

Graça Pires disse...

Acordar à hora dos pássaros... Para quê abrir os olhos?
Um beijo, amigo.

Ju disse...

Muito bonito.
Enquanto lia integrava-me nesse belo cenário!
Parabéns
Bom domingo

Cadinho RoCo disse...

A cada despertar um momento mágico surge em nossas vidas.
Cadinho RoCo

Anónimo disse...



Inventamos paraísos todos os dias, e, por isso as palavras escorrem pelas nesgas abertas entre os dedos.

Lindo e familiar!

Abraços

Vanessa M. disse...

Maravilhoso poema!
Desperta muitas sensações..

Um grande abraço

Ailime disse...

Muito, muito belo este poema!
Sinto uma mistura de emoções!
Sabe tão bem de vez em quando fechar os olhos..
Beijinhos,
Ailime

Isabel disse...

Parece tudo tão banal, e no entanto...

Boa semana:)

Rosa dos Ventos disse...

Mesmo de olhos fechados se sente o poema!

Abraço

Olinda Melo disse...


Uma história, uma rotina, talvez, um desejo...

A contrapor, a cegueira quase voluntária de l'écume des jours.

Abraço

Olinda

Palavras soltas disse...

A rotina as vezes nos cega.

Sempre belo, Mar.

manuela baptista disse...

não sei porquê,

há poemas que gostamos mais de ler, como um jarro cheio de água

Laura Santos disse...

As palavras continuarão sempre a espreitar entre os dedos, e a história, a que passa, e a que fazemos, não acabará nunca.
Belo poema!
xx

Suzete Brainer disse...

a consciência construída
diariamente,mas o sentir poético
libertador acompanhando o fluir
da vida nas mãos, nas palavras
de grande poeta...

Sou fã da tua poesia e é
um privilégio ler-te!
Bjos.

Majo disse...

~
~ ~ Um poema tocante com uma conclusão que lhe confere um significado intenso e profundo.

~ ~ ~ Poeta, dias agradáveis e inspirados. ~ ~ ~

jrd disse...

E todos os dias vamos descerrando os olhos lentamente e "sentimos" os sons da poesia.

Um abraço meu irmão

trepadeira disse...

Depois de sonhar de olhos abertos.

Abraço,

mário

Sónia M. disse...

Despertar por dentro à hora dos pássaros, pura (bela) poesia! Bjs

Agostinho disse...

Felizes os que despertaram
dos olhos fechados,
hastearam o sol no
mastro mais alto e nú,
e marcaram o rumo
firme e incorruptível.
A vaga nasceu do ventre
da terra fecundada
de vontade de ser
e cresceu o sonho pleno.

Rita Freitas disse...

Mas não era o fim da história e tem dias que abrimos os olhos ao despertar :)

Gostei imenso.

bjs e uma boa semana

By Me disse...

É mais fácil fingir-se de cego...

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, de olhos fechados consegue-se viver momentos intensos.
A partilha é bela.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

Helena disse...

As palavras que espreitavam entre os dedos formavam belos versos, e por isso as águas fremiam...

Agulheta disse...

Um belo despertar,mas muito intenso para ler nas entrelinhas.
Beijinho

d'Angelo Rodrigues disse...

O que dizer a quem desperta à hora dos pássaros? Suas palavras são plenas de magia.

Gyzelle Góes disse...

Você usa bem as palavras

Manuel Veiga disse...

de olhos fechados para melhor sentir a "respiração" da tua Poesia...

enorme.

abraço, meu irmão Poeta.

Teresa Durães disse...

É na escrita que podemos abrir esses olhos que teimamos em fechar.

Fê blue bird disse...

Um cenário perfeito em que me envolvi completamente.
Lindo o seu poema!

beijinho

Teresa Almeida disse...

Absorvo o evoluir da horas e envolvo-me com a melodia que se desprende em cada verso.
Beijo meu.