Publicado no meu CAÇADOR DE RELÂMPAGOS
Enquanto aquele anjo permanecer nas areias, bem pode o vento soprar.
O cão ou o velho?
Lentos, trôpegos, com os pés a tracejarem os caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias.
O cão - mais velho que o dono - era o guia, a sua bengala de cego.
Pela orla da praia, desde a gruta onde viviam até à colossal duna, abrupta sobre as águas, as aves marinhas mergulhavam a pique e esbracejavam só para os salpicar.
Lá iam, serenos, livres, sem palavras - imensos.
No ar, o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.
Chegados ao topo da montanha era sempre assim - o velho afagava as orelhas do cão e o cão lambia-lhe as mãos.
Sentados - respiravam infinitos - o perfume das algas - adormeciam no tempo.
Ao longe, muito ao longe, alguém de um barco bramou
Fuja - a duna vai desmoronar-se.
Imperturbável, respondeu baixinho para não acordar o cão
A duna sou eu?
É assim a cumplicidade dos afectos, um passeio tão por dentro de nós.
ResponderEliminarInfinitamente belo.
Um abraço, Eufrázio.
E aí, nos nos conhecemos.
ResponderEliminarTenho teu livro, por perto (esta é uma das suas belas páginas)e de vez em quando releio uma coisa ou outra. Serve-me de estimulo
Muito lindo este excerto e muito forte e tocante a pergunta final. Foi bom relembrar o "Caçador de Relâmpagos", de que já nos tinhas deixado pelo menos uma passagem, que me tenha apercebido.
ResponderEliminarBeijinhos
Branca
Mar Arável,
ResponderEliminarBelo muito belo. Todos somos uma duna em potência e as pequenas areias por vezes levam ao desmoronamento. Porém, o velho amigo está lá e ele trará o sal necessário e afagará a sede.
Bom domingo!
Belíssimo!
ResponderEliminarApreciei a viagem do poema...
ResponderEliminarA minha estima,
Uma alegoria linda que nos transmite uma força imensa... e cada vez mais necessária.
ResponderEliminarUm abraço.
... serenos, livres e imensos!
ResponderEliminare o cão lambia-lhe as mãos!
a duna é um regaço.
poema lindo, Mar.
beijo.
E o cãopanheiro pode ficar tranquilo.
ResponderEliminarMuito bom.
Abraço
De uma força interior incrível este excerto.
ResponderEliminarBelo!
Abraço
Belissimo pedaço de narrativa. Respiravam infinitos....quando assim se respira está tudo dito. É perfeito e absoluto, os meus parabens.
ResponderEliminarIntenso!
ResponderEliminarPelo menos eram livres e serenos!
Também eu sou duna impotente sentido o desmoronamento aproximando-se.
Beijinho e uma flor
Fez-me recordar um conto de Borges em que ele conversa com um imaginário alter ego, num banco de jardim.
ResponderEliminarEncantadora, a tua história!
ResponderEliminarMuito bom este texto. Gostei.
ResponderEliminarRamos~Horta não vai ser reeleito.
As coisas da política...
Bj.
Irene
"baixinho, para não acordar o cão" - de grande delicadeza e sensibilidade. Gostei, como não?
ResponderEliminarUm dia a duna desmorona-se. É a (des)construção natural do ser.
ResponderEliminarSó a sabedoria de um velho pode ser tão serena,tão "imperturbável".
Belíssimo texto!
Um beijo
Sensível, belo
ResponderEliminarRespirei infinitos!
Abraço, Eufrázio
Fez-me lembrar o narrador de "Em Nome da Terra", de Vergílio Ferreira, que leio por estes dias. O desmoronar poderá parecer (é) inevitável e a serenidade nesse momento é sabedoria inigualável.
ResponderEliminarGostei muito. Boa semana.
Às vezes a serenidade mantém-se até ao fim.
ResponderEliminarUm abraço.
Daqui sinto a maresia, o ar salgado, a ondulaçao das águas...e as memórias marcando compasso nessa sinfonia que me traz o som do vento. Ah, as algas verdes,escorregadias, sempre me causaram estranheza, o seu perfume um arrepio lembrando-me o tempo em as desafiava e procurava fugir-lhes . E enquanto a duna não se desmorona aguentemo-nos e sondemos o horizonte.
ResponderEliminarAbraço, mar arável, obrigada por este belo poema.
Olinda
Se o tempo já está adormecido...
ResponderEliminarA única certeza é a beleza do momento....
A vida está cheia de dunas que se desmoronam; entrar em pânico não ajuda...
Como o velho bem sabe...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
o final foi realmente lindo.
ResponderEliminarParabéns para nos que tanto carinho temos pelas nossas amizades
ResponderEliminarquantos vezes mesmo cansados procuramos de alguma forma acarinhar
nossos amigos(AS).
Na verdade ao longo do tempo fez nossa amizade crescer
hoje somos como irmãos .
Uma verdadeira nação de blogueiros unidos no amor.
Um beijo carinhoso pelo nosso dia.
Que muitos anos possamos comerar cada vez mais unido essa Dia.
Carinhos meus.Evanir..
Está na hora de ler o Caçador de Relâmpagos.
ResponderEliminarAdoçaste-me a vontade.
Beijo
seria
ResponderEliminarou o cão
digo, baixinho, para não acordar os olhos
um abraço
Haja remoinhos de vida
ResponderEliminarPartículas que não nos dêem descanso, no ar...
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ResponderEliminar...feliz é quem se reconhece um com o todo! Que delicia o seu texto...A cada parágrafo, imaginei o momento.
Beijos de luz e o meu carinho!!!
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!!! que delícia este pedacinho de texto....que maravilha...
ResponderEliminarOlha...deu-me uma vontade de chorar...Desculpa; o texto é muito bom. não sei que me deu...coisas de mulher!!!
BJ
BS
Excelente este naco de estética literária!
ResponderEliminarFoi-se com o vento, em pequenos grãos de areia...
ResponderEliminarA avaliar pelo excerto "CAÇADOR DE RELÂMPAGOS" deve ser magnifico...
ResponderEliminarAbraço
cvb
que importa uma duna na imensa serenidade da sabedoria?...
ResponderEliminarbelíssimo.
abraço, meu caro Poeta.
os afectos
ResponderEliminartão importantes
e que andam tão arredios
muito bom!
um beij
Passei para lhe dar um beijo de agradecimento pela sua poesia, neste dia que a lembra.
ResponderEliminarBeijinho. :)
O afecto tudo liga...
ResponderEliminarBons sonhos, amigo
Excelente texto. Gostei imenso.
ResponderEliminarUm abraço e tudo de bom para si
Lindissimo,com uma mensagem profunda e ao mesmo tempo cheio de serenidade...adorei
ResponderEliminarAbraço
quando as palavras emanam os sentimentos...
ResponderEliminarUma duna, que se encrespa em cada lufada de vento, oxigenando a memória do velho, ali, sentado ao lado do cão...
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